-
Cúpula do Mercosul: o presidente Lula diz que 'não há atalho na democracia' na região, porém é preciso permanecer vigilante contra 'falsos democratas'
-
Lula citou os atos antidemocráticos que ocorreram em 8 de janeiro e tentativa de golpe na Bolívia. A reunião aconteceu em Assunção, capital do Paraguai, sem a presença do presidente da Argentina, Javier Milei.
- Por Camilla Ribeiro
- 08/07/2024 20h26 - Atualizado há 3 meses
Nesta segunda-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em reunião da cúpula do Mercosul, em Assunção, capital do Paraguai, que "não há atalhos para a democracia", ao citar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro no Brasil e a tentativa de golpe na Bolívia.
O presidente brasileiro disse que é preciso estar vigilantes para o que chamou de "falsos democratas".
O presidente atribuiu a manutenção da democracia na Bolívia à firmeza do governo boliviano, à mobilização do povo, e ao rechaço da comunidade internacional.
"O Mercosul permaneceu mais uma vez unido em defesa da plena vigência do Estado de Direito consagrado no Protocolo de Ushuaia. A reação unânime ao 26 de junho na Bolívia e ao 8 de janeiro no Brasil demonstram que não há atalhos à democracia em nossa região, mas é preciso permanecer vigilantes. Falsos democratas tentam solapar as instituições e colocá-las à serviço de interesses reacionários", disse Lula
"Democracia e desenvolvimento andam lado a lado. Os bons economistas sabem que o livre mercado não é uma panaceia para humanidade", continuou o presidente.
O bloco sul-americano é formado por Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai e deve formalizar a entrada da Bolívia. Ao término da reunião, o Uruguai assume o comando semestral do grupo.
A cúpula não contou com a participação do presidente da Argentina, Javier Milei, o que provocou desconforto nos outros integrantes do Mercosul, já que os membros não faltam nos encontros semestrais do bloco.
A chanceler argentina, Diana Mondino, representou Milei na cúpula de chefes de Estado.
Um dia antes da cúpula Milei estava em um encontro de conservadores em Santa Catarina com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Essa foi a primeira viagem do presidente argentino ao Brasil, que até o momento não teve uma agenda de trabalho com Lula.
Mercosul x União Europeia
O presidente defendeu a conclusão das negociações de revisão do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia dizendo que é responsabilidade dos europeus a demora.
"Só não concluímos o acordo com a União Europeia porque os europeus ainda não conseguiram resolver suas próprias contradições internas", disse Lula.
Lula também falou do acordo de livre comércio com a Palestina e repetiu críticas às ações do exército de Israel na Faixa de Gaza.
"Nos orgulhamos de ser o primeiro país do bloco a ratificar o Acordo de Livre Comércio com a Palestina, mas não posso deixar de lamentar que isso ocorra no contexto em que o povo palestino sofre com as consequências de uma guerra totalmente irracional", disse.
Clima e fome
O presidente falou sobre as enchentes no Rio Grande do Sul, os incêndios no Pantanal e a seca na Amazônia, e fez um chamado a "maior engajamento e ambição climática".
Além disso, o presidente também citou a aliança contra a fome que planeja lançar nas próximas semanas e convidou os integrantes do Mercosul.
Reino Unido e França
Lula fez saudações as vitórias das "forças progressistas" nas eleições parlamentares do Reino Unido e na França - o trabalhista Keir Starmer em Londres e a coalizão de esquerda Nova Frente Popular em Paris.
"Ambas são fundamentais para a defesa da democracia e da justiça social contra as ameaças do extremismo", disse Lula.
O presidente fez críticas com relação as posturas de governos de outros países que trabalham para deixar de fora de documentos de cúpulas palavras que tratam de gênero.
"Apagar a palavra gênero de documentos só agrava violência cotidiana sofrida por mulheres e meninas", declarou.
No mês anterior, a declaração final da cúpula do G7 excluiu a referência direta ao aborto, após a anfitriã Itália se posicionar de maneira contrária à menção do procedimento.
Bolívia
Essa reunião será marco da entrada da Bolívia no Mercosul. O país, que passou por uma tentativa fracassada de golpe militar, aprovou no parlamento as regras de ingresso ao bloco.
Arce agradeceu o apoio recebido pela "maior parte" dos países da região após a tentativa fracassada de golpe e, sem citar Milei, criticou falas sobre um "suposto autogolpe".
"Lamentamos declarações infundadas e poucos sérias sobre um suposto autogolpe quando lamentavelmente se tratava de um clássico golpe de Estado", disse Arce.